Em meio a um contexto pandêmico que trouxe tragédias diárias e acentuou desigualdades, a pedagogia se reinventou com o fechamento de portões das escolas para impedir que os alunos que antes frequentavam aquele espaço perdessem o que ele proporciona. Mais do que conhecimento, professores e servidores da rede pública de instituições por todo o Brasil buscaram na criatividade formas de manter próximo aos estudantes o conceito de humanidade.
O motorista de ônibus escolar Gervásio Costa, de 50 anos, do interior de Minas Gerais precisou se adaptar ao momento atual para garantir que alunos pudessem estudar. "Antes eu levava as crianças até o conhecimento. Hoje, entrego o conhecimento para elas." A rotina de Gervásio na pandemia mudou. Ele passou a sair de casa quando ainda estava escuro, passar na escola às 7h30, pegar as atividades escolares impressas e levar às fazendas onde moram os alunos da Escola Municipal Dona Olympia Leite Ribeiro, do Núcleo Rural Guaxupé.
O ônibus foi trocado por um carro da prefeitura, que percorreu o caminho de terra até chegar às fazendas em um trabalho diário, que se encerrava no escuro, no fim da noite. "Chego a atravessar duas ou três porteiras para chegar em algumas chácaras. Mas, com o passar das semanas, a gente já identifica a rotina daquela família. Tinham algumas que eu tinha que entregar atividade mais tarde, se não, não encontrava ninguém em casa, já que os pais saiam para trabalhar e levavam os filhos", lembra o motorista.
O barulho do carro de Gervásio simbolizava para as crianças a proximidade com a escola. "Os pequenos já sabiam que eu estava chegando e o momento tinha muita emoção. Mas não podíamos abraçá-los por conta da pandemia", lamenta. Os pais também comemoravam a chegada do motorista nas fazendas. "Gervásio era como se fosse o Papai Noel trazendo a atividade como presente", brinca Fabiana Oliveira, 26 anos, mãe da aluna Agatha, de 5.
Luciana Miccheti Cruz, professora há 10 anos no município, era uma das pedagogas que produzia as atividades para turmas sem acesso à internet. A solução dela foi dialogar com a vivência dos estudantes. As tarefas que usavam recursos da natureza eram as mais aguardadas pelos pequenos, que, por vezes, tinham que acompanhar os pais no trabalho no campo. "Eu pedia para fazer atividades com o que eles tinham por perto. Falamos sobre a árvore genealógica, eu pedia fotos, a gente fazia esse resgate familiar, dava dicas de alimentos, falava sobre as plantas", exemplifica.